NUMA NOITE MUITO ESCURA

Escrito por: Jean S. Viana


Arrebatada em loucos lances de vento e escura manta negra e sombria, a noite chega. Coloca seus olhos nos ávidos campos de milho, cheios de boas espigas e cheiro agradável. Ali deposita escuras cercanias e se delicia ao latidos dos cães, quando tosca criatura se arrasta pelas estradas de passagem, com seus trapos cheios de retalhos e remendos.
Quem seria aquele que caminha na escuridão sem medo do noturno ou do ladrão?
Mesmo assim avança, como quem não pensa na virada da estrada e nem na arma do assaltante. Sem medo segue a pé a viajar por ali como se conhecesse todas as terras.
A lua pálida sem encolhe Semi nua por entre nuvens escuras... Passa um tempo e ela se despe, mostrando seu corpo com ousadia. A terra se ilumina nestas horas de exposição.
Mas que figura era aquela que nem para a examinar seu caminhar e nem repara nos lugares os detalhes por onde passa. O silêncio repara e permanece como esta.
Porém para alguns nem isso incomoda. Charles Winker, já estava de bolsos cheios de outros assaltos, mas não iria embora enquanto não estivesse completamente satisfeito.
Ali no meio do mato se deitara a adormecer enquanto outro trouxa não viesse a incomodar sua preguiça e bebedeira.
- Olha só o que vem lá!
Pensou ele ao ver tal figura a altas horas a caminhar por aquela estrada.
- Mais um trouxa a por dinheiro no meu bolso! Este encerra a noite e amanhã na taverna do Touro Negro vou beber até não aguentar mais!

A figura vinha a passos largos e sem exitar. Passou por uma porteira saltando sobre ela sem parar. Charles sentiu um arrepio que mais parecia um pressagio ruim. Nunca viu um maltrapilho com tanto vigor. Porém quando este se aproximou... Logo Gritou:
- Pare senhor! Pois entre sua bolsa e sua vida, sua vida tem mais valor! Passa me todo seu dinheiro, ou juro pelo inferno que diante dessa Lua iras perecer!

A figura se deteve. Na sombra do manto e do capuz que cobria seu rosto se manteve. No frio e na brisa se revelava um cheiro podre sem comparação. Alguns minutos sem ação e o trapo humano sorriu... Isso ao menos pode se ver.
Charles tremeu e erguendo seu braço com a pistola engatilhada.
- Pare Senhor! Eu o Previno! Mais um passo e estouro sua cabeça! passa me todos os seu valores!

A criatura deu um passo... Ao que Charles ameaçou:
- Estou avisando! Sua vida aqui se encerra e não conhecera outras terras!

A criatura sorriu e com voz rouca respondeu:
- Minha vida a ti não interessa! Diante da Morte não tenho mais pressa! Quanto ao Mundo... Eu já conheci vários lugares e neles deixei meu sortilégio! Aqui, nesta hora... É sua vida que pões fora!

Diante do Medo Charles dispara. Mas, nada acontece. Aquele homem não tomba e nem tão pouco, sangra. Horror.
- Quem és tu senhor, cuja as balas não ferem??

Aquela figura sorriu mais uma vez e respondeu bem devagar:
- Eu sou a morte e hoje vim a este condado para buscar uma família inteira! Mas antes de vir aqui... Mais cedo passei numa taverna e entre ladrões e assassinos me pus a beber! Um deles com ousadia de quem acha que nunca vai perecer, me desafiou numa aposta justa: Se eu passasse por ele, sua família toda podia perecer! Pois ele era o tal e nada temia! não tinha intenção de morrer! Achei engraçado, confesso! Mas aceitei a aposta e na hora combinada por esta passagem caminhar eu deveria... Até que Charles Winker me parar iria! Segundo ele, bêbado e armado na taberna, mais cedo disse... Que por ele, nem a Morte Passaria!

Charles se jogou ao chão de joelhos enquanto a morte sorria.
- Sim! Agora me recordo da Zombaria! Não era minha intenção causar lhe tal indignação! Perdoa me e vai te em paz para longe desse pobre Ladrão!

A morte fica por alguns minutos quieta enquanto a lua furtiva se esconde por trás de uma nuvem. Depois fala grosseiramente e faz alarde:
- Muito engraçado! Antes eras o tal a desafiar me, seu maldito fanfarrão! Pois saiba que a aposta foi ofertada e essa noite as 12 horas, seus familiares irão morrer! Criança, pai e mãe, assim como teus irmãos!

Charles entra em desespero. Suas mãos tremem, e mesmo de joelhos, descarrega sua arma sobre a criatura. Mas... Nada acontece. Como se mata aquilo que não morre?? Como se livrar da palavra lançada?? E agora? Ele se levanta tremendo... A aposta era deter a morte até as 12 hora da noite. Apenas alguns minutos separam a vida de uma família da morte sentenciada. Ou um ladrão cumpria sua aposta, ou todos os seus desse mundo partiriam. As lágrimas descem sem parar. Então uma decisão é tomada...
Ele corre na direção da morte e a abraça. A lua sai do seu esconderijo a observar essa hora macabra. Ele sente seu corpo esfriar e começar a se enrijecer... Seu paladar some ao sabor do frio, e seus ouvidos se ensurdecem... Logo sua visão nubla. Ele sabe que deve segurar a morte o máximo que puder ou sua família morrera esta noite. Seu corpo se petrifica e... Charles Winker, logo fixa seu olhar no vazio. Ele esta MORTO. Neste momento, os sinos da igreja anunciam em 12 badaladas noturnas, que aquelas horas fúnebres se findaram... Bem ao longe, em som fraco, ao sabor do vento numa noite fria. Logo a lua se recolhe e se veste com o manto cinza das nuvens escuras.
Um corpo desliza por seu algoz e se deita no solo arenoso cheio de pedregulhos.
A morte observa o corpo imóvel do ladrão e esboça surpresa... Um ser desprezível... No seu último momento na terra... Teve uma atitude humana de amor.
Uma neblina escarlate sobe pela estrada e a morte desaparece no véu da noite sem deixar rastros no solo. Ali, mais uma vez ela cumpriu seu papel, sem dó nem cerimônia ou testemunha.

Escrito por: Jean S. Viana
24/06/2020
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