QUANDO AS ESPERANÇAS MORREM

Escrito por: Jean S. Viana

Quando as esperanças morrem... Quase sempre Levam consigo uma vida. Os ânimos se vão como uma brisa leve de verão. Nossas almas parecem sombras largadas na vastidão da noite, e nossas mentes se tornam uma prisão de sentimentos e raivas vazias.
George Baker, era apenas um artesão solitário, que trabalhava com entalhes em madeira. Porém, bem cedo havia perdido suas esperanças na humanidade. A vida dura, e as frequentes decepções com os seres humanos, o tornara rude e áspero. Poucas pessoas podiam dizer que tinha um convívio normal com ele. Era uma pessoa, a qual a amargura o moldara, com certezas e duvidas cruéis.
Muito jovem ainda ele perdera seu pai e sua mãe. Pouca coisa havia dado certo na sua vida.
Os caminhos sempre foram estreitos e pavimentados de pedras afiadas. Galgou a dor e o sofrimento para conquistar seu direito de vida e sonhos tolos. Pois não são tolos os sonhos não realizados?
Todos os dias levantava cedo, fazia seu café e preparava seus cinzeis e outras ferramentas.
Ao fundo, na sua oficina de trabalho, tinha um tom escarlate nas paredes, onde a prateleira exibia peças antigas e decoradas com motivos florais.
Naquela manhã em particular, a rua na frente da sua casa estava tranquila. De repente uma senhora interrompe seu trabalho, gritando aos berros nas portas da sua loja.
- Senhor Baker! Artesão, Artesão!

Que louca era aquela que chamava a sua porta tão cedo? Todos sabiam na cidade, que ele só abria a loja depois das 12 horas do dia.
Pensou ele enquanto se levantava do banquinho de madeira e arremessava seu martelinho no chão.
Seguiu até a porta praguejando sem parar.
-Droga dos infernos!! Quem me perturba tão cedo!! Não pode esperar??

Irritada a mulher de cabelos longos e negros retrucava:
- Hora homem!! Não quer vender suas coisas?? Preciso de uma cabeceira de cama e um banquinho para os pés!! A jovem Roxanne vai se casar... e amanhã haverá uma festa para dar presentes!!

George Baker olhou a mulher de cima a baixo e desdenhou:
- E Eu com isso? Nem me recordo dessa jovem!! Não sou Pai dela e muito menos o homem dela!!

A senhora se viu ofendida com tal colocação:
- Cruzes, o Senhor é muito grosso! Desse jeito não conseguirá muitos trabalhos!

Baker ficou calado e depois foi breve no falar:
- A Senhora quer ou não que eu faça o seu pedido??

A mulher parecia ferver de raiva, mas se segurou ao responder levantando seu nariz pontudo:
- Pela sua falta de educação, se houvesse outro artesão eu preferia repudiar seus serviços e contratar o outro! Mas... Infelizmente, Só temos o senhor mesmo! Porque me olhas desse jeito??

Ele continuou a olha-la como quem olha algo insignificante:
- Vai fazer a droga ou não??

Era o fim da picada. Realmente aquele homem não tinha a menor educação.
- Nossa! Seu grosso!! Daqui a pouco mandarei o menino com os desenhos!! Até nunca mais!!! Passar bem senhor!! Infelizmente não posso escolher a qualidade do artesão!

Permaneceu inabalável e afirmou:
- Humphf!! O mesmo pra senhora!! Também não posso escolher a qualidade do cliente!!

E lá se foi a mulher, xingando e soltando seus venenos na rua.
De volta aos trabalhos... 20 minutos depois um garoto magrelo e de olhos fundos surge a porta do artesão. Em suas mãos trazia alguns desenhos florais para os entalhes em madeira.
- Com sua licença senhor Baker! Posso adentrar sua loja??

Baker observou o garoto de pouca saúde e não quis fazer nenhuma menção a mais do que o necessário. Se levantou e foi até o garoto:
- Normalmente não! Mas, sim!! Me dê estes desenhos garoto!! Muito Bom!!
- Hummm... Muito Bem desenhado! Quem os fez? Se é que posso perguntar!!

O garoto franzino se aprumou dentro do terno escuro com um suave sorriso:
- Obrigado Senhor!! Eu mesmo os fiz!! Sou aspirante a belas artes!

E enfatizou com toda certeza do mundo enquanto enchia seu pulmões de ar para finalizar e assim o fez:
- Pretendo ser pintor e projetista, senhor! Estou estudando e realizando alguns trabalhos para guardar dinheiro e investir na minha nobre profissão!

O senhor Baker olhou o rapaz com um olhar neutro...
- Eu só perguntei quem fez os desenhos! Só isso e nada mais! A sua história de vida ou sonhos de grandeza não me interessam!

O rapaz ficou sem entender o mal humos aparente e desviou o olhar para o fundo da loja e das peças que lá haviam, como se não tivesse ouvido a resposta do homem.

Jean S. Viana

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